Não deixe seu filho na companhia de uma IA

Recentemente, o psicólogo social Jonathan Haidt publicou um alerta contundente em seu provocativo artigo escrito em coautoria com Zach Rausch: Don’t Give Your Child Any AI Companions (Não dê nenhum companheiro de IA para seu filho).


Haidt é uma grande referência da atualidade no estudo do impacto da tecnologia na vida de crianças e adolescentes. Seu livro Geração Ansiosa havia alertado de maneira contundente que a "infância baseada no brincar" entrou em declínio na década de 1980 e foi substituída pela "infância baseada no celular", acompanhada por uma hiperconectividade que alterou o desenvolvimento social e neurológico dos jovens, causando privação de sono, privação social, fragmentação da atenção e vício.


Como consequência, desde o início dos anos 2010, as taxas de depressão, ansiedade e outros transtornos mentais têm crescido vertiginosamente nestes grupos.


No entanto, como ele observou, não reconhecemos os danos enquanto eles ocorriam e não tínhamos como saber sobre seus efeitos tardios no desenvolvimento infantil. E então, muitos da Geração Z pagaram o preço por nossa inação.

Agora, Haidt chama atenção para o uso da IA por esses grupos. Estamos entrando em uma nova fase da infância digital, com uma tecnologia ainda mais transformadora chegando como uma onda gigante. Desta vez, não poderemos dizer "nós não sabíamos", ele observa.

“Chatbots e assistentes virtuais com inteligência artificial são o próximo experimento em massa descontrolado que o Vale do Silício quer realizar com as crianças do mundo todo. Algumas das mesmas empresas que impulsionaram as redes sociais na infância com pouca preocupação com a segurança infantil estão criando e promovendo esses chatbots, inserindo-os em bonecas e bichos de pelúcia , e posicionando seus produtos como "amigos", confidentes e terapeutas. Não caia nessa”.


O artigo lembra que uma pesquisa da Common Sense Media de 2025 revelou que 72% dos adolescentes americanos já usaram um assistente virtual com inteligência artificial pelo menos uma vez, e mais da metade os utiliza várias vezes por mês. Pesquisas mostram que esses sistemas de IA já estão se envolvendo em interações sexualizadas com crianças e oferecendo conselhos inadequados ou perigosos, incluindo o incentivo servil a jovens que consideram o suicídio.


Isso está acontecendo em parte porque, de acordo com os autores, o engajamento ainda é o modelo de negócios. Aliás, as políticas da MetaAI permitiam explicitamente que chatbots interagissem com crianças em conversas “românticas ou sensuais”.


Diante disso, fazem a seguinte provocação: Imagine que alienígenas inteligentes pousassem na Terra amanhã e que, a princípio, parecessem estar aqui para nos ajudar. Deixaríamos nossos filhos brincarem com eles imediatamente? Permitiríamos que nossos adolescentes desenvolvessem laços românticos e relações sexuais com eles? Ou manteríamos nossos filhos bem longe deles até termos certeza absoluta de que são seguros para crianças?”


A pergunta é retórica e não precisa de resposta. Também não precisamos acreditar em alienígenas para entender o ponto…


Diante disso, Haidt e Rausch são incisivos ao dizerem que “não podemos repetir os erros que cometemos com as redes sociais. Não podemos esperar que a comunidade científica chegue a um consenso sobre os malefícios antes de estabelecermos limites claros para a vida digital das crianças, pois esse consenso costuma levar décadas para ser alcançado”. Devemos partir, eles afirmam, “do princípio de que as novas tecnologias que alteram radicalmente a infância são prejudiciais até que se prove o contrário, e devemos estar atentos aos primeiros indícios de danos. Já aprendemos, da maneira mais difícil, o que acontece quando a tecnologia substitui as conexões humanas reais”.


Concluem com o seguinte conselho: “À medida que nos aproximamos das festas de fim de ano, minha mensagem para os pais é simples: NÃO DEEM AOS SEUS FILHOS NENHUM COMPANHEIRO OU BRINQUEDO DE IA. Ofereçam a eles brinquedos, equipamentos esportivos e experiências que fortaleçam seus relacionamentos presenciais, em vez de substituí-los”.


Iremos agir com cautela e prudência ou iremos esperar os resultados?

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